segunda-feira, 31 de outubro de 2011

De verdade


Minha pequena fez um aninho e faço aquela pergunta que sai da boca de toda mãe:
¨por que é que eles crescem?¨.
Conforme vão aprendendo, nos os perdemos. 
Não como filhos, isso é para sempre!!!
Mas cada vez mais a vida os convida a experimentar o que ela oferece. 
E eles vão inocentes e curiosos. 
Arriscam se distanciar, 
pois sabem que estamos logo atrás. 
Qualquer sufoco sabem para onde voltar. 
Sabem onde é seguro.
Sou o tipo de mãe que adora observar o desenvolvimento dos  meus filhos. 
Anoto datas: primeiro passinho, 
primeira palavra, primeiro ¨dodói¨...
Graças a Deus  tenho a oportunidade  de estar presente em cada fase pela qual eles passam.
Quando estiverem grandes, poderei contar a eles as travessuras que aprontavam quando eram pequenos.
E quando esse dia chegar vou ter muitas lembranças guardadas, 
que me farão companhia enquanto eles tecem seu próprio amanhã.
Pensar nisso denota uma certa tristeza, 
porque fica subentendido que até lá estarei mais velha e sem meus bebes para cuidar. 
Mas, já penso nos netos que vou ganhar e meu coração aceita resignado esse ciclo.
Tenho uma família tão linda e feliz.
É uma pena que não seja assim para todos.
Minha felicidade muitas vezes se depara com a infelicidade de muitas crianças.
Enquanto vejo os meus filhos com cara de criança feliz, 
vejo muitas outras crianças trazendo no rosto a expressão da fome, da dor e da tristeza, 
ao invés de um sorriso.
Isso me atinge na alma e me revolta.
Faço parte dos que ainda não se acostumaram com a falta de sorte alheia.
E ainda me assusto com o descaso daqueles que conservam a ¨cortina da indiferença¨ estampada no rosto. 
Não tem como ignorar que perto da gente pode ter alguém estendendo a mão, pedindo ajuda.
Podem ser muitas maozinhas.
E seria legal se pudéssemos agarrar algumas e oferecer pelo menos o básico a elas.
Infelismente, existem essas diferenças entre os homens.
Existem as antíteses, os paradoxos, os antônimos.
O mínimo que poderia ser feito é que os pais cuidassem bem do seu próprio filho.
Assumir a responsabilidade por ele e conduzí-lo por um bom caminho.
Assim não teriam tantas crianças sobrando, sem amparo, sem destino.
Por isso cuido bem dos meus para que eles não sobrem no mundo e sejam alguém que tenha passado, presente, futuro 
e lembranças boas da vida.
Sou feliz por ser mãe de verdade e merecedora de toda a alegria que vem dos meus filhos.
E também por me importar com os filhos que não são meus.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)

sábado, 29 de outubro de 2011

Torpor


A vida é como a maré, nos obriga a continuar mesmo estando cansados.
Um dia desses pode ser que um sorriso me escape.
Pode ser que eu sinta o cheiro da chuva e o gosto do vento.
E essa dormência em minha alma comece a latejar.
Fazendo pulsar em mim, novamente, a vontade de viver.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)



sábado, 22 de outubro de 2011

A última que morre


Em alguns momentos,
a vida nos pressiona demais,
ou será que somos nós que temos muita pressa?
Ou medo, de não conseguir ser feliz?
Nessas horas as escolhas podem ser erradas,
podem nos levar a lugares ermos, tristes.
...
Abri uma porta,
porque eu precisava respirar um pouco.
Olhei lá fora e vi um mundo
desconhecido, novo:
Sem você limpando meus óculos,
 carregando o meu celular.
Sem nós e as crianças
 amontoados na mesma cama.
Sem nossos planos e até as nossas brigas.
Por um momento um cansaço me empurrou para o lado de fora.
Foi bem nessa hora que senti saudades
de tudo o que temos.
E no último segundo me agarrei a porta
e entrei de volta.
Fiz outra escolha,
talvez a mais difícil que já fiz.
Porque dessa vez,
tive que dar a última coisa que tinha:
A esperança.
Que eu mantinha guardada, feito Pandora.
Onde eu depositava todas as nossas chances.
E ela agora nos protege,
nos ensina a ter calma.
Ela também aquece nossos corações enquanto a distância nos esfria.
A nossa mártir, a última que morre.
...
Existem momentos na vida,
 que precisamos ir mais devagar.
Encarar nossos medos
e escolher nossa sorte sem pressa.
Se for o caso,
 parar um pouco para descansar,
recuperar o fôlego, as energias e continuar.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)




Certezas


Não quero alguém que morra de amor por mim…
Só preciso de alguém que viva por mim,
que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame,
 não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto,
 gostem de mim…
Nem que eu faça a falta que elas me fazem,
o importante pra mim é saber que eu,
em algum momento,
fui insubstituível…
E que esse momento será inesquecível..
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre…
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz
para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém…
e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém
também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas
renúncias e loucuras,
alguém me valoriza pelo que sou,
não pelo que tenho…
Que me veja como um ser humano completo,
que abusa demais dos bons
sentimentos que a vida lhe proporciona,
que dê valor ao que realmente importa,
 que é meu sentimento… e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude,
para que eu nunca cresça,
 para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo,
mas se um dia isso acontecer,
quero ter forças suficientes
 para mostrar a ele que o amor existe…
Que ele é superior ao ódio e ao rancor,
 e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar,
 amanhã será outro dia,
e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por
palavras pessimistas…
Que a esperança nunca me pareça
um “não”
que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo
como “sim”.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa,
 de poder dizer a alguém o quanto ele é
 especial e importante pra mim,
sem ter de me preocupar com terceiros…
Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…
Que o amor existe,
que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim,
e que eu sempre dei o melhor de mim…
e que valeu a pena.



(Mário Quintana)


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A porta


Dias atrás, fazendo uma faxina na minha casa, encontrei uma porta diferente, que eu nunca tinha notado, nem sei dizer se já estava ali. 
O fato é que ela está, e bem no meu quarto.
A princípio fiquei olhando, percebi que tinha a mesma cor da parede, deve ter sido por isso que não a vi ou não queria vê-la. 
Acho que eu a criei.
Foram minhas ânsias querendo transpor as barreiras da minha vida. 
Uma porta que me levaria a um lugar fora do comum.
Não precisei abrí-la para ver o que tinha do outro lado, de certa forma, eu já sabia que todas as coisas que não cabiam no meu pequeno mundo estavam lá, esperando serem excluídas de vez ou não:
Alguns projetos de vida, que não abandonei, apenas deixei de lado.
Sonhos que me deram asas enquanto eu dormia, mas que quando eu acordava, me colocavam no chão outra vez.
Vontades que surgiram nos momentos de tristeza.
Planos que amanheceram num dia feliz.
E até pessoas que o tempo fez questão de afastar de mim.
Pensei em tudo aquilo lá fora e quis muito resgatar algumas coisas.
Mas eu não podia passar pela porta no meio da bagunça que estava a minha casa.
Então continuei a faxina.
Depois desse dia ela nunca mais sumiu, está sempre ali, no meu quarto.
Quando a noite me deito para dormir, mesmo no escuro consigo vê-la.
Fico pensando se ela nunca mais vai sumir. E a vontade que tenho de abrí-la também.
Será que só na minha casa aparecem portas assim?
Ou as pessoas fingem que elas não existem?
Como faço agora.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)


sábado, 1 de outubro de 2011

O tempo certo


Estava pensando sobre o tempo das coisas. 
O momento certo para acontecer algo na nossa vida.
Coisas que queremos muito.
Algumas que não podemos sozinhos.
Outras que só dependem de nós.
Como respirar por exemplo.
Não só o ar,  mas também a vida.
Ontem milha filha de 11 meses tentou correr.
Num impulso segurei suas mãos para que não caísse.
Mas ela me fitou nos olhos, puxou as mãos e continuou a correr.
Não tentei segurá-la outra vez, captei sua mensagem e fiquei só observando-a.
Ela corria sempre perto da cama, quando se desequilibrava, agarrava-se nas bordas e não caia.
Ficou fazendo isso por um bom tempo, até a exaustão.
Ela tem muitas coisas para aprender.
Todos os dias treina incansavelmente.
Minha mãe diz que está danada, arteira.
Eu penso que está desenvolvendo.
Depressa demais, mas é o tempo dela e respeito.
Sempre acho que fiz poucas coisas pelo tanto de tempo que já vivi.
Estou sempre correndo, tentando fazer tudo antes que o meu tempo acabe.
Hoje minha filha estava de novo na beira da cama.
Contida, concentrada e paciente.
Mostrando que todo dia podemos tentar um pouco mais.
Deus me ensina, nesses pequenos momentos, como viver.
E fico menos apreensiva diante das minhas vontades.
Cada dia que passa espero menos dos outros e mais de mim.
Assim, faço do tempo o meu tempo.


( Akemi de Queiroz Sakaguchi)