Pensei em tantas coisas relacionadas a minha vida aqui no Japão. Voltei no tempo e consegui me ver chegando aqui pela primeira vez. Eu tinha 20 anos, vim pra ficar dois anos e já estou há mais de 10!!!
O tempo !!!
Como passou rápido e ainda há tanta coisa que quero, que desejo, que planejo.
Porém, o meu maior sonho já está realizado. O de ser mãe!
Que considero ser a melhor parte de mim, a maior experiência da minha vida.
O amor que tenho pelos meus filhos me faz ser especial, uma ¨heroína¨, que quase nunca adoece, só pra não falhar, só pra não faltar em nenhum momento da vidinha deles.
Ser mãe me faz desejar um mundo melhor pra que eles possam ficar bem quando chegar a hora de deixá-los seguir sozinhos.
Muitas vezes peço a Deus saúde, do resto eu agradeço!!! Mas ter saúde é ter mais vida e mais tempo para ensiná-los a viver, mas tempo para dar-lhes amor e para vê-los crescer.
É um sentimento tão renovador que ainda tenho vontade de ter outros. Na verdade, eu gostaria de ter 5 filhos, mas não é fácil assim, como ter um bem qualquer. Quando decidimos ter um filho, mesmo que venha por descuido, sem ser planejado, a natureza que Deus nos deu ainda nos permite 9 meses de reflexão e preparação.
Nosso corpo sofre mudanças e nossa concepção sobre a vida também. Acontece um sincronismo perfeito e de repente somos ¨mais¨do que éramos.
Mais fortes, mais responsáveis, mais humanas, mais amáveis, mais tementes a Deus...
É claro que também ficamos mais ¨chatas¨, mais ¨certas¨, mais ¨paranoicas¨, mudanças quase que involuntárias, que mais parecem um dispositivo programado para disparar assim que nos tornamos mães.
Quem nunca achou sua mãe exagerada? A minha é!!! Mas agora que eu também sou, entendo seus repentes e suas ¨nóias¨.
Eu não teria planejado melhor o nascimento dos meus filhos, não aqui nesse lugar onde estava só de passagem, mas foi aqui que tudo aconteceu e de certa forma gostei!!!
Um lugar seguro, organizado, com leis rígidas, mas funcionais.
Aqui nessa terra fria reformulei meus valores e preceitos sobre várias coisas. Uma delas é o trabalho, que pra mim não significa só ganhar dinheiro, representa muito mais que ter um salário no final do mês.
O trabalho dignifica e aprimora aqueles que fazem dele um meio de vencer na vida. Não pelas coisas materias, mas pelo crescimento pessoal, pelo refinamento do ser.
Gosto de trabalhar, não sei ficar ociosa e detesto sentir preguiça, indisposição. Estou sempre fazendo alguma coisa, qualquer coisa!!! Meu corpo está sempre em movimento, até danço pra não ter que ficar parada, rs...
Tenho a sorte de trabalhar e cuidar dos meus filhos, sem ter a necessidade de deixá-los em creches ou babás.
Quando precisei trabalhar em fábricas fiquei com medo de deixar meu filho em creches, porque apesar do movimento dekasegui ( trabalhadores temporários, vindos de outros lugares) já existir há anos, infelizmente, ainda não temos estrutura familiar como os ¨japas¨tem. Por isso, o tempo que ficamos ¨presos¨dentro da fábrica independe do tempo que devemos ficar com os nossos filhos.
Em tempos de crise, quando o trabalho fica escasso, fica difícil até faltar no serviço pra levar a criança ao médico, pois até isso é motivo de demissão. Sei bem disso, pois cuido dessas crianças, filhos de dekaseguis, e já cuidei de muitas ¨ardendo¨ em febre porque os pais pressionados não tinham outra escolha, a não ser confiar em mim o filho doente.
Contudo, esse é um estilo de vida que já estamos acostumados, ainda porque muita coisa melhorou e também existe o outro lado, o que compensa.
A qualidade de vida que temos e que podemos oferecer para eles, não se consegue em qualquer lugar e aqui isso é possível! E não tem nada melhor do que criar nossos filhos em boas condições.
Meu filho mais velho tem 9 anos e estuda em escola brasileira. Ao contrário do que muitos pensam, não somos obrigados a conviver com os japoneses, só porque estamos no Japão.
O brasileiro sempre dá um ¨jeitinho¨ e ao longo dos anos acabamos trazendo um pouco do Brasil para cá. Temos escolas, restaurantes, danceterias, igrejas, lojas e comunidades brasileiras que se integram dentro do espaço que por nós foi conquistado.
Assim sendo, muitos decidem até morar aqui e os que pretendem voltar, como eu!!! vão aguentando um pouco mais.
Acredito que minha realidade não é muito diferente de muitos que vivem aqui, pois mesmo tendo conquistado o nosso espaço ainda somos obrigados a viver em torno dos limites estabelecidos pelo país, o que é muito natural e necessário. Graças a isso o ¨jeitinho malandro de ser¨do brasileiro não tem espaço para se expandir e os que se aventuram acabam se deparando com as severas leis de punição para quem comete infrações.
Costumo pensar que o brasileiro que chega aqui torto, se não endireita, pelo menos volta mais civilizado e mais trabalhador, rs...
Bem, meu tempo acabou, tenho agora outras coisas para fazer, mas volto logo...
Escrever me faz bem, sempre fez!!!
Até mais!!!
bye!!!
Um comentário:
Nossa Akemi, que mulher foi essa que vc se tornou??!! Me arrepiei ao ler teu blog, Parabéns por todas as conquistas e principalmente pela superação das dificuldades, acho que tenho muito a aprender c vc! Elke
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