domingo, 11 de dezembro de 2011

O que me importa

O que me importa
Seu carinho agora
Se é muito tarde
Para amar você...

O que me importa
Se você me adora
Se já não há razão
Pra lhe querer...

O que me importa
Ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis
Você nem mesmo soube dar
Amor!...

O que me importa
Ver você chorando
Se tantas vezes
Eu chorei também...

O que me importa
Sua voz chamando
Se pra você jamais
Eu fui alguém...

O que me importa
Essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais
Tristezas pra chorar
Que o seu!...

O que me importa
Ver você tão triste
Se triste fui
E você nem ligou...

O que me importa
Seu carinho agora
Se para mim
A vida terminou
Terminou! oh! oh! oh!
Terminou! oh! oh! oh!
Oh! oh! oh!...



sábado, 10 de dezembro de 2011

Momentos...




A vida pode nos oferecer momentos difíceis,
mas se prestarmos bem atenção, 
todos os dias podemos ter um momento especial. 
Um momento que nos dê motivos suficientes para seguir em frente.
Momentos que nos dão força para superar dificuldades e ultrapassar barreiras.
Encontrei muitos momentos assim nos últimos dias.
Na verdade, sempre estiveram aqui,
dentro da minha casa, dentro da minha vida. 
As vezes é o sorriso da Laurinha,
outras vezes é um abraço do Riquinho 
e até uma birra da Juju. 
Pode ser qualquer coisa que venha deles.
É também o carinho da família 
e a atenção dos amigos.
E antes de tudo é a presença de Deus.
Sei que os momentos tristes sempre estarão misturados entre os momentos felizes.
Só quero ser capaz de escolher os momentos certos, sem dar importância aos momentos que não me levarão a lugar algum.
Quero apenas viver os dias, 
com seus detalhes relevantes.
E esquecer que existem momentos que não precisam ser lembrados,
muito menos guardados dentro de mim.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)



sábado, 19 de novembro de 2011

O Jardim das Borboletas


Com o tempo você vai percebendo que,
para ser feliz com outra pessoa,
você precisa em primeiro lugar,
não precisar dela.
Percebe também que aquela pessoa que você ama
ou acha que ama,
e que não quer nada com você,definitivamente,
não é a pessoa da sua vida.
Você aprende a gostar de você,
a cuidar de você e,principalmente,
a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas...
é cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas,
você vai achar,não quem você estava procurando,
mas quem estava procurando por você...


Mário Quintana

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A guardiã da minha irmã


¨Na minha lembrança mais antiga, eu tenho três anos e estou tentando matar a minha irmã. Às vezes a cena é tão clara que me lembro da sensação da fronha contra a pele, da ponta do nariz dela pressionando a palma da minha mão. Ela não tinha a menor chance, é claro, mas mesmo assim não funcionou. Meu pai passou por ali enquanto arrumava as últimas coisas antes de dormir e a salvou. Ele me levou de volta pra cama.
     _ Vamos fingir que isso nunca aconteceu - disse.
     Quando fomos ficando mais velhas, eu parecia não existir, a não ser em relação a ela. Eu a observava dormindo do outro lado do quarto, com uma longa sombra entre nossas camas, e enumerava as maneiras. Veneno no cereal dela. Uma correnteza perversa na praia. Um raio.
     No fim das contas, acabei não matando minha irmã. Ela mesma se encarregou disso.
     Ou pelo menos é disso que eu tento me convencer.¨p.9

Gosto de compartilhar, principalmente as coisas boas, e este é mais um livro que eu li e gostei, por isso recomendo.
A  maioria das pessoas já devem ter assistido ao filme, que foi adaptado para o cinema como  Uma prova de amor. Mas isso não estraga a leitura, pois as histórias diferem e o final  é totalmente inesperado. Surpreendente.
Achei a narrativa interessante, alternada entre todos os personagens da trama, de modo que cada um tem a chance de expressar, verdadeiramente, como se sentem em relação aos outros e a si próprio.
Aí vai um tira gosto, só para abrir o apetite.

O livro conta o drama de uma família diante uma doença, que naturalmente e inevitavelmente, acaba transformando a vida de todos.
Kate, aos dois anos de idade, foi diagnosticada com um tipo raro e agressivo de leucemia,  Jesse, seu irmão mais velho, não é um doador compatível. Diante dessa impossibilidade  o médico sugere a Sara e Brian, pais de Kate e Jesse, a chance de ter um outro filho geneticamente compatível para salvar Kate. 
 
“E, se seus pais só tiveram você por um motivo, é melhor esse motivo existir. Porque, quando ele desaparecer, você vai desaparecer também.”p.14

E nessa premissa Anna foi concebida, doando ao nascer o sangue de seu cordão umbilical  para que suas células troncos pudessem salvar a irmã. Porém, depois de um tempo a doença volta, tornando Anna uma doadora permanente, vivendo  à sombra da doença de Kate e fazendo-a parecer doente, embora fosse uma menina saudável e cheia de planos.
Quando é obrigada a doar um rim a Kate, Anna procura um advogado, Campbell, para entrar com uma ação de emancipação legal por motivos médicos,  contra seus pais.

      ¨Está vendo? Por mais que você queira se agarrar à memória dolorida e amarga de que alguém deixou esse mundo, você ainda está nele. E o próprio ato de viver é uma maré: primeiro não parece  fazer diferença nenhuma, e então, um dia, você olha para baixo e vê quanto a dor foi corroída.¨p.432

O desenrolar da história deixo com vocês. Boa leitura.
Lane, obrigada amiga, nem preciso dizer que gostei do presente, beijos.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

???


Meu pensamento se perde, vagueia, procura um lugar para se firmar.
Como um cego, que se perde dentro da própria casa, 
só porque mudaram os móveis do lugar de costume.
De repente, me esqueço da primeira palavra do texto que levei tanto tempo decorando.
Uma folha em branco espera as palavras certas e,
uma pergunta a resposta que está na ponta da língua e ao mesmo tempo não está.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)



sábado, 5 de novembro de 2011

Auto-engano


Estou aqui tentando me convencer que a vida é, realmente,
do jeito que vejo.
Que as pessoas que conheço são, 
exatamente, 
o que elas me mostram ser:
Gente cheia de defeitos e virtudes, 
num mundo cheio de coisas boas e ruins.
Assumo a culpa de que, 
desesperadamente,
eu mesma inventei as máscaras que eu queria ver e as coloquei nos rostos 
de onde hoje elas caem.
Apenas não consigo enxergar 
as mentiras que não contei, 
essas são as mais difíceis de evitar.
São nelas que acredito quando me basto desse mundo imperfeito.
Escolho a hora em que vou me entorpecer.
Será quando eu estiver cansada de  tanta originalidade.
Mas não demora muito também me afasto e me arrasto de volta ao que não é o melhor,
mas também não é o pior, 
simplesmente por ser verdadeiro.
Por isso aceito assim as coisas como elas são.
E nós do jeito que somos.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

De verdade


Minha pequena fez um aninho e faço aquela pergunta que sai da boca de toda mãe:
¨por que é que eles crescem?¨.
Conforme vão aprendendo, nos os perdemos. 
Não como filhos, isso é para sempre!!!
Mas cada vez mais a vida os convida a experimentar o que ela oferece. 
E eles vão inocentes e curiosos. 
Arriscam se distanciar, 
pois sabem que estamos logo atrás. 
Qualquer sufoco sabem para onde voltar. 
Sabem onde é seguro.
Sou o tipo de mãe que adora observar o desenvolvimento dos  meus filhos. 
Anoto datas: primeiro passinho, 
primeira palavra, primeiro ¨dodói¨...
Graças a Deus  tenho a oportunidade  de estar presente em cada fase pela qual eles passam.
Quando estiverem grandes, poderei contar a eles as travessuras que aprontavam quando eram pequenos.
E quando esse dia chegar vou ter muitas lembranças guardadas, 
que me farão companhia enquanto eles tecem seu próprio amanhã.
Pensar nisso denota uma certa tristeza, 
porque fica subentendido que até lá estarei mais velha e sem meus bebes para cuidar. 
Mas, já penso nos netos que vou ganhar e meu coração aceita resignado esse ciclo.
Tenho uma família tão linda e feliz.
É uma pena que não seja assim para todos.
Minha felicidade muitas vezes se depara com a infelicidade de muitas crianças.
Enquanto vejo os meus filhos com cara de criança feliz, 
vejo muitas outras crianças trazendo no rosto a expressão da fome, da dor e da tristeza, 
ao invés de um sorriso.
Isso me atinge na alma e me revolta.
Faço parte dos que ainda não se acostumaram com a falta de sorte alheia.
E ainda me assusto com o descaso daqueles que conservam a ¨cortina da indiferença¨ estampada no rosto. 
Não tem como ignorar que perto da gente pode ter alguém estendendo a mão, pedindo ajuda.
Podem ser muitas maozinhas.
E seria legal se pudéssemos agarrar algumas e oferecer pelo menos o básico a elas.
Infelismente, existem essas diferenças entre os homens.
Existem as antíteses, os paradoxos, os antônimos.
O mínimo que poderia ser feito é que os pais cuidassem bem do seu próprio filho.
Assumir a responsabilidade por ele e conduzí-lo por um bom caminho.
Assim não teriam tantas crianças sobrando, sem amparo, sem destino.
Por isso cuido bem dos meus para que eles não sobrem no mundo e sejam alguém que tenha passado, presente, futuro 
e lembranças boas da vida.
Sou feliz por ser mãe de verdade e merecedora de toda a alegria que vem dos meus filhos.
E também por me importar com os filhos que não são meus.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)

sábado, 29 de outubro de 2011

Torpor


A vida é como a maré, nos obriga a continuar mesmo estando cansados.
Um dia desses pode ser que um sorriso me escape.
Pode ser que eu sinta o cheiro da chuva e o gosto do vento.
E essa dormência em minha alma comece a latejar.
Fazendo pulsar em mim, novamente, a vontade de viver.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)



sábado, 22 de outubro de 2011

A última que morre


Em alguns momentos,
a vida nos pressiona demais,
ou será que somos nós que temos muita pressa?
Ou medo, de não conseguir ser feliz?
Nessas horas as escolhas podem ser erradas,
podem nos levar a lugares ermos, tristes.
...
Abri uma porta,
porque eu precisava respirar um pouco.
Olhei lá fora e vi um mundo
desconhecido, novo:
Sem você limpando meus óculos,
 carregando o meu celular.
Sem nós e as crianças
 amontoados na mesma cama.
Sem nossos planos e até as nossas brigas.
Por um momento um cansaço me empurrou para o lado de fora.
Foi bem nessa hora que senti saudades
de tudo o que temos.
E no último segundo me agarrei a porta
e entrei de volta.
Fiz outra escolha,
talvez a mais difícil que já fiz.
Porque dessa vez,
tive que dar a última coisa que tinha:
A esperança.
Que eu mantinha guardada, feito Pandora.
Onde eu depositava todas as nossas chances.
E ela agora nos protege,
nos ensina a ter calma.
Ela também aquece nossos corações enquanto a distância nos esfria.
A nossa mártir, a última que morre.
...
Existem momentos na vida,
 que precisamos ir mais devagar.
Encarar nossos medos
e escolher nossa sorte sem pressa.
Se for o caso,
 parar um pouco para descansar,
recuperar o fôlego, as energias e continuar.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)




Certezas


Não quero alguém que morra de amor por mim…
Só preciso de alguém que viva por mim,
que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame,
 não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto,
 gostem de mim…
Nem que eu faça a falta que elas me fazem,
o importante pra mim é saber que eu,
em algum momento,
fui insubstituível…
E que esse momento será inesquecível..
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre…
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz
para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém…
e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém
também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas
renúncias e loucuras,
alguém me valoriza pelo que sou,
não pelo que tenho…
Que me veja como um ser humano completo,
que abusa demais dos bons
sentimentos que a vida lhe proporciona,
que dê valor ao que realmente importa,
 que é meu sentimento… e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude,
para que eu nunca cresça,
 para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo,
mas se um dia isso acontecer,
quero ter forças suficientes
 para mostrar a ele que o amor existe…
Que ele é superior ao ódio e ao rancor,
 e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar,
 amanhã será outro dia,
e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por
palavras pessimistas…
Que a esperança nunca me pareça
um “não”
que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo
como “sim”.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa,
 de poder dizer a alguém o quanto ele é
 especial e importante pra mim,
sem ter de me preocupar com terceiros…
Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…
Que o amor existe,
que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim,
e que eu sempre dei o melhor de mim…
e que valeu a pena.



(Mário Quintana)


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A porta


Dias atrás, fazendo uma faxina na minha casa, encontrei uma porta diferente, que eu nunca tinha notado, nem sei dizer se já estava ali. 
O fato é que ela está, e bem no meu quarto.
A princípio fiquei olhando, percebi que tinha a mesma cor da parede, deve ter sido por isso que não a vi ou não queria vê-la. 
Acho que eu a criei.
Foram minhas ânsias querendo transpor as barreiras da minha vida. 
Uma porta que me levaria a um lugar fora do comum.
Não precisei abrí-la para ver o que tinha do outro lado, de certa forma, eu já sabia que todas as coisas que não cabiam no meu pequeno mundo estavam lá, esperando serem excluídas de vez ou não:
Alguns projetos de vida, que não abandonei, apenas deixei de lado.
Sonhos que me deram asas enquanto eu dormia, mas que quando eu acordava, me colocavam no chão outra vez.
Vontades que surgiram nos momentos de tristeza.
Planos que amanheceram num dia feliz.
E até pessoas que o tempo fez questão de afastar de mim.
Pensei em tudo aquilo lá fora e quis muito resgatar algumas coisas.
Mas eu não podia passar pela porta no meio da bagunça que estava a minha casa.
Então continuei a faxina.
Depois desse dia ela nunca mais sumiu, está sempre ali, no meu quarto.
Quando a noite me deito para dormir, mesmo no escuro consigo vê-la.
Fico pensando se ela nunca mais vai sumir. E a vontade que tenho de abrí-la também.
Será que só na minha casa aparecem portas assim?
Ou as pessoas fingem que elas não existem?
Como faço agora.


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)


sábado, 1 de outubro de 2011

O tempo certo


Estava pensando sobre o tempo das coisas. 
O momento certo para acontecer algo na nossa vida.
Coisas que queremos muito.
Algumas que não podemos sozinhos.
Outras que só dependem de nós.
Como respirar por exemplo.
Não só o ar,  mas também a vida.
Ontem milha filha de 11 meses tentou correr.
Num impulso segurei suas mãos para que não caísse.
Mas ela me fitou nos olhos, puxou as mãos e continuou a correr.
Não tentei segurá-la outra vez, captei sua mensagem e fiquei só observando-a.
Ela corria sempre perto da cama, quando se desequilibrava, agarrava-se nas bordas e não caia.
Ficou fazendo isso por um bom tempo, até a exaustão.
Ela tem muitas coisas para aprender.
Todos os dias treina incansavelmente.
Minha mãe diz que está danada, arteira.
Eu penso que está desenvolvendo.
Depressa demais, mas é o tempo dela e respeito.
Sempre acho que fiz poucas coisas pelo tanto de tempo que já vivi.
Estou sempre correndo, tentando fazer tudo antes que o meu tempo acabe.
Hoje minha filha estava de novo na beira da cama.
Contida, concentrada e paciente.
Mostrando que todo dia podemos tentar um pouco mais.
Deus me ensina, nesses pequenos momentos, como viver.
E fico menos apreensiva diante das minhas vontades.
Cada dia que passa espero menos dos outros e mais de mim.
Assim, faço do tempo o meu tempo.


( Akemi de Queiroz Sakaguchi)



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O pequeno principe e a raposa

E foi então que apareceu a raposa:

- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira…
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita…
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste…
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços…"
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra…
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor… cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto…
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração… É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele…
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…
- Eu sou responsável pela minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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Um intervalo. Por alguns dias. Talvez um ano ou nunca mais.
Não sei bem por quanto tempo.
Apenas sei que preciso de um tempo.
Gosto daqui: falo o que penso, o que sinto.
Mas é hora de dar um tempo:
Sem falar.
Só sentir.
Dar uma volta, na real. 
Ver o que acontece lá fora.
Tipo:
Ler uns livros.
Encontrar velhos amigos.
Visitar alguns parentes.
Fazer uns cursos.
Praticar um esporte.
Viajar com as crianças.
Ser voluntária.
...
Fazer coisas importantes, com um certo significado.
Achar um sentido para a vida.
Encontrar motivos para sorrir.
Caminhos para seguir.
Me achar, me refazer.
Outra vez.
E, quem sabe voltar.
Melhor do que sou hoje.
Bye!


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)




segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A melhor parte do meu dia


Todos os dias, quando chego em casa,
depois de um dia de trabalho.
 Fico parada na porta e espero um pouco.
Não demora muito meus anjinhos, de rabinho escondido, surgem: 
correndo e falando ao mesmo tempo.
Tentam num segundo,
me contar as novidades do dia.
Geralmente, são reclamações.
Estão na fase de implicar um com o outro.
Tento não dar muita ênfase para as fofocas. 
Logo eles esquecem e me contam coisas mais legais.
Nesse tempo em que sou assediada pelos mais velhos, a caçula,
que não sabe falar, mas já sabe andar,
aperta os passinhos desajeitados e me alcança
com um sorriso que dispensa qualquer palavra. 
Num abraço, encosta a cabecinha no meu ombro e me dá uns tapinhas nas costas. Tal como faço com ela. 
Entendo seus sinais. 
Nessa hora demonstra que sentiu a minha falta e como é bom me ver.
Paz, é a palavra que define esse momento do meu dia.
Chegar em casa e ver que estão todos bem: 
seguros, saudáveis e felizes.
Não há motivo maior para ser feliz.
Nessas horas meu coração se enche de Deus.
Essa felicidade plena é obra dele e, 
não tem como não atribuir ao pai todas as minha dádivas.
Agradeço também a minha mãe, 
que está por perto,
cuidando e ensinando aos meus filhos,
toda a cartilha que um dia já me ensinou.
Dizem que avó é mãe duas vezes.
Concordo, plenamente.
Não posso esquecer também de agradecer a babá,
sem ela eu nem poderia trabalhar.
Meus bens mais preciosos, deixo nas mãos dela.
Mãos abençoadas e guiadas pelas mãos de Deus.
Penso agora, como a vida pode ser quase perfeita quando damos valor a esses pequenos-grandes detalhes.
Como perdemos tempo dando importância a sentimentos tão pequenos,
quando podemos desfrutar do amor, da amizade, da paz, da alegria...
Muitas vezes, na correria que é a vida,
nos esquecemos que na cabecinha deles,
tudo é mais simples.
Que para eles, sempre existe tempo para um abraço, uma conversa.
Sempre existe um tempo para nós.
Ser mãe, é muito mais que dar, somente, amor e conforto.
É também estar presente.
Todos os dias tento ser mãe de verdade.
Mesmo que eu não consiga algumas vezes.
Estou sempre tentando fazer o melhor.
O meu melhor. 


(Akemi de Queiroz Sakaguchi)